quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A felicidade como posse e exercício das faculdades humanas e compreensão do mundo

O ódio à razão, tão frequente nos nossos dias, é devido em grande parte ao facto dos movimentos da razão não serem concebidos duma forma suficientemente fundamental. O homem dividido contra si mesmo procura estímulos e distracções; ama as paixões fortes, não por razões profundas, mas porque momentaneamente lhe permitem evadir-se de si próprio e afastam dele a dolorosa necessidade de pensar.
Toda a paixão é para ele uma forma de intoxicação, e desde que não pode conceber uma felicidade fundamental, a intoxicação parece-lhe o único alívio para o seu sofrimento. Isso, no entanto, é o sintoma duma doença de raízes profundas. Quando não há tal doença, a felicidade provém da plena posse das suas faculdades. É nos momentos em que o espírito está mais activo, em que menos coisas são esquecidas que se sentem alegrias mais intensas. Esta é, sem dúvida, uma das melhores pedras de toque da felicidade. A felicidade que exige intoxicação de não importa que espécie, é falsa e não dá qualquer satisfação. A felicidade que satisfaz verdadeiramente é acompanhada pelo completo exercício das nossas faculdades e pela compreensão plena do mundo em que vivemos.

Bertrand Russell, A Conquista da Felicidade